domingo, 24 de julho de 2011

Gilda Moura, poeta potiguar de Caicó/RN

Várias pessoas me pediaram para eu publicar este poema de Gilda, elas dizem se identificar com ele, algumas falam que já viram esta cena. Então carinhosamente eis aqui para os que apreciam um bom texto   

O sapato do meu filho
.
Ele chegou tristonho e cabisbaixo
E pro seu quarto de mansinho entrou,
E eu percebi que num soluço baixo
O silêncio de seu quarto ele quebrou
E sem demora fui lhe perguntando
O que lhe aconteceu que está chorando?
Mas um soluço sua voz cortou.
Fala filho... Estou preocupada,
Não gosto de te ver tão triste assim,
Praticaste alguma coisa errada?
Olha pra tua mãe, conta tudo a mim.
E sua voz n entrecortada:
Eu fiz mamãe, uma coisa errada
E estou arrependido sim.
E como toda mãe que preza seu filho
Meu corpo todo estremeceu de emoção.
E eu percebi que seus olhos tinham um brilho
E esse brilho se espalhava pelo chão
E analisando me veio o pensamento
Que a angústia do meu filho no momento
Doía dentro do seu coração
Sentei-me ao seu lado, procurei me acalmar.
Beijei a sua testa e ele então a me olhou
E fazendo um grande esforço para falar
Sua tragédia toda me contou.
Foi agora, mamãe, lá na escola
Sem querer um pé eu descalcei
Do meu sapato eles fizeram bola
Eu fiz esforço, mas não o alcancei.
E gritava em algazarra delirante
Na proporção que cada um chutava
E eu via cair o seu barbante
E também via que ele se rasgava.
E lembrei-me somente da senhora
Que trabalha dia e noite sem parar,
Sem ter dinheiro pra comprar agora
Outro par de sapatos pra me dar.
Marchei direto pra diretoria,
Prestei a queixa ao meu inspetor
Que mandou buscar com autonomia
O aluno culpado, o autor.
À proporção que ele se aproximava,
Era o amigo de quem eu mais gostava
E eu fui seu carrasco delator.
Aquela cena mamãe me deu um trauma
Ele não merecia eu ter agido assim.
É um amigo que tenho dentro d´alma
É a amizade que vi chegar ao fim
O que é certo é que eu perdi de fato,
Um grande amigo por causa de um sapato,
E não tens nesta hora outros para mim.
As lágrimas se inverteram e quem chorou fui eu.
Filho, não se perde um amigo de verdade
Acredite no conselho meu,
Vai a ele e conta com vontade,
Que não fizeste aquilo por maldade,
Foi por pobreza que tudo aconteceu.
E verás que ele reconhecerá
E o perdão facilmente te dará.
E ele voltou no outro dia radiante
Mamãe eu fiz como a senhora me ensinou
E meu amigo compreendeu no mesmo instante
E o resto da turma ele chamou
E em uma emoção que foi constante,
Aos colegas todos, ele explicou:
Olhem amigos o Dimas tem razão,
Foi somente em sua mãe que ele pensou
Naquela hora em que denunciou.

Ao meu filho Dimas Iraê de Moura – Inspirado num fato real
Gilda Moura – Academica, trovadora e poeta.
Página 61 – Livro Gilda - 1998


2 comentários:

Daluzinha Avlis disse...

AMIGA QUERIDA

AH! Que bom você voltou...Bjos!!!

Alzenir Araujo Santos disse...

Oi, Flauzineide!
Até que enfim você postou essa linda poesia no seu blog. Quanto sentimento!
Muito obrigada.
Um abraço.
Alzenir