domingo, 6 de dezembro de 2009

"Amigos,com os melhores votos de Feliz Natal! " - Mensagem enviada por Clevane, escritora potiguar.

CLEVANE PESSOA DE ARAÚJO LOPES

Nordestina radicada em Minas Gerais. Psicóloga, sexóloga, jornalista, escritora, artista plástica. Embaixadora Universal da Paz (Cercle de Les Amabassadeurs Universels de la Paix - Genèbre), Suiça. Vice-Presidente do IMEL - Instituto Imersão Latina, Diretora Regional do InbrasCi, Pesquisadora do MUNAP, possui 7 livos publicados, 20 e-books. Seu curriculum é vastíssimo: além de inúmeros prêmios literários, pertence a diversas Academias: em 2009, tomou posse na ALB, Mariana, na qualidade de acadêmica fundadora, quando recebeu o título de Filósofa Imortal, Doutora Honoris Causa, PH I, pela ALB/CONALB. Acaba de tomar posse, na qualidade de Acadêmica Correspondente, na ALTO (Teófilo Otoni); e, em 18/11/2009, ocupará a cadeira nº 5 na AFEMIL - Academia Feminina Mineira de Letras (Belo Horizonte). Integra a Sociedade dos Poetas Vivos Digital vol. 5 e vol. 9. Entre as dezenas de páginas que se encontram na Internet, destaca: http://clevanepessoaeoutraspessoas.blogspot.comhttp://paginas.terra.com.br/arte/asasdeagua

ÁRVORE DE NATAL
Caminha apressada depois da faxina,cansada de tantos recolher papéis, lavar troços, organizar, abraçada a um presente da patroa, embulhado em papel alumínio, em papel manteiga e depois em um caderno literáio de um Jornal qualquer, as sobras do pernil. Tem pressa mesmo, porque a filha hemiplégica, de doze anos, depois de receber nas costas uma "bala perdida", que ninguém soube de onde veio, nem porque - sua comunidade sempre pacata - a espera sempre ansiosa. Jamais chega de mãos vazias. Uma balinha que seja, tira da bolsa grande, cara e velha que a filha de D. Ju lhe dera, há uns seis anos. Ver o sorrido angelical da meninazinha, é seu grande momento do dia. Sim, menina ainda. A puberdade sequer se instalara na pequena. Nem brotos mamários, nem cavar-se de cintura. A menarca ainda não marcara suas roupas íntimas. A garota, sem experiências sociais, leituras excitantes, não apreende as cenas picantes da novela que a mãe assiste ao chegar. Conhece todos os personagens, ri em todas as situações engraçadas, comenta as roupas da protagonista, acha bonito o artista que a beija. Mas continua com a alma de criança.
A mulher, no ponto do ônibus agora, observa um casalzinho a trocar afagos. A sem nehum constrangimento por estarem em público. A mão afoita do adolescente adentra a malha da camiseta vermelha da parceirinha e fica por ai, qual lagartixa em parece lisa. Desvia os olhos e pensa que, felizmente, a filha é uma menina, quase dá graças pela semiparalisia, quando pede persão a Santa Rita, não, claro, preferia fosse saudável, haveria de educá-la bem, pra que tivesse juízo. Perdida em seus pensamentos, penetra num cochilo reparador.
Quando abre os olhos, o ônibus está parado, ninguém, em o motorista estão nele. Assustada, levanta-se e caminha para a porta.
O trocador entra e diz, compreensivo: - A senhora perdeu seu ponto? Este é o final... Morde um sanduíche e ao reparar em seu olhar, oferece um pedaço, com a presteza dos pobres, que sabem o que é ter fome:
- Quer? Tome um pedaço. Entrega-o e ela agradece, mas antes de comer, pergunta quando o ônibus sai.
- Agora mesmo, mas a senhora terá de descer e pegar aquele - aponta para um coletivo parado à frente, ainda com as luzes apagadas - o motorista me mandou "vim "avisar."
- Mas vou ter de pagar de novo?
- Tem, mas vou falar com o motorista para deixar a senhora entrar por trás, e não rodar a catraca.
- Ah, será que ele deixa?
- Vamos ver, diz o rapazote. Dá espaço a que ela desça, com um gosto bom de salame na boca.
Tudo arranjado, ela volta para casa, já sabendo que o ônibus, no retorno, não passa tão perto de seu barraco, ainda assim, sente-se bem, parece um relaxamento, um passeio de ônibus, ela qual uma princesa em sua carruagem. Princesa? Ri de si mesma! Longe se vão os tempos em que acreditava em história e fadas e afins. Quando entrara na igreja para se casar com o Beto, cumprira um último trajeto de esperança, simples mas resplandecente de alegria, no seu vestido branco, véu e grinalda de margaridas. No mesmo ano, ele morrera afogado, brincando e acenando para ela.Dali para frente, grávida e chorosa, só lutas. Até agora, quando a única alegria era a menina, Jaqueline. Quando pensou na filha, estremeceu. Mas onde estaria o pacote com os restos e pernil? Lembrara-se do outro ônibus, ali dormira, por certo, fora roubada. Ou deixara cair, sonada...
Desolada, pensou que aquela hora, não encontraria mais nada pra a filha, mas suspirou e agora já despida da sensação gostosa de ter uns momentos sem correria só para si mesma, caiu num estado de qusase letargia.
O motorista, já avisado pelo tocador, de seu trajeto, olhu para trás e falou bem alta para a passageira única, caso estivesse cochilando:
- Ei, minha tia, é o próximo ponto.
Quando ela passava por ela, para sair do veículo, ainda a instruiu, enquanto passava uma toalhinha no rosto suado e simpático e observada a mulher limpinha e com ares de grande cansaço:
- A senhora vira duas quadras acima, à èsquerda e duas ruas depois, é aquele ponto perto da sorveteria, quando o ônibus vem de volta.
Ela desceu, num local ermo, embora mais para cima, bares estivessem abertos, as pessoas certamente com a canseira e a falta de grana pós natalina.
Foi andando, um pouco apreensiva, porque aquele não era seu trajeto, de vez em quando, por prudência, virava a cabeça para um ou outro lado, para descobrir que andava sozinha. Ao virar a primeira esquina, uma porta se abriu, era a da cozinha de uma churrascaria. Um rapaz de bigodes jogou fora, por sobre as latas de lixo, metros e metros de enfeites natalinos, aqueles usados em guirlandas, ainda com objetos pendurados. Ela deu alguns passos e voltou. Sim, estavam jogando fora. Começou a tentar enrolar, enrolou-se com a tarefa, e a porta novamente se abriu. O rapaz riu:
- Quer levar? Deixe que eu ajudo! Tem tanto enfeite, que nem sabemos onde jogar mais. Com mãos grandes e ágeis, fez rolos e foi lhe entregando. Alguns ela colocou na bola, sem poder mais puxar o fecho-eclair. Ele foi lá dentro e voltou com uma grande estrela:
- E essa, a senhora quer? Ainda tem as luzinhas, é só ligar... O patrão mão gosta que guarde, para não juntar poeira, baratas, ele é fanático por limpeza, mas tem de ser, é um restaurante... Ela abanava a cabeça, a alma novamente iluminada. O presenteador lhe disse:
- Ei, a senhora quer levar umas sobras? Tem muita coisa que estamos dividindo, faço uma embalagem "de viagem" para a senhora. Ela jamais viajara, mas fez que sim, agradecendo previamente, o sorriso luzindo no rosto.
Ele voltou com uma caixa.
- Tem de um tudo aí, só coisa fina, até doces e castanhas - e com o tato dos generosos, minimizou a doação, para que não parecesse esmola - também estou levando para minha patroa, acho que dá para congelar, para o Ano Novo, até... Todos nós estamos enchendo caixas...
Ela fez que "sim" com a cabeça e contou:
- Minha filha está me esperando, ela adora doces...
Já ia saindo, quando ele chamou:
- Olha que bonito, disse mostrando uma fileira de pequenos aljôfares vermelhos e dourados. Toma aqui! - E vendo que ela não tinha mais espaço, enrolou tudo em seu pescoço, depois de pedir licença - até parece um colar!...
Quando desceu do ônibus, correu para casa e encontrou a menina, cansada de esperar, semia dormecida. A garota, com aquele sorriso de barco, igual ao dela, exclamou feliz:
- Nossa, mãe, você está aparecendo uma árvore de Natal
Aquela foi uma das melhores noites de reencontro cotidiano das duas, um Natal atemporal, mas cheio de encantamento, alegria e fartura!

Clevane Pessoa de Araújo Lopes

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