O
sapato do meu filho
.
.
Ele
chegou tristonho e cabisbaixo
E
pro seu quarto de mansinho entrou,
E
eu percebi que num soluço baixo
O
silêncio de seu quarto ele quebrou
E
sem demora fui lhe perguntando
O
que lhe aconteceu que está chorando?
Mas
um soluço sua voz cortou.
Fala
filho... Estou preocupada,
Não
gosto de te ver tão triste assim,
Praticaste
alguma coisa errada?
Olha
pra tua mãe, conta tudo a mim.
E
sua voz n entrecortada:
Eu
fiz mamãe, uma coisa errada
E
estou arrependido sim.
E
como toda mãe que preza seu filho
Meu
corpo todo estremeceu de emoção.
E
eu percebi que seus olhos tinham um brilho
E
esse brilho se espalhava pelo chão
E
analisando me veio o pensamento
Que
a angústia do meu filho no momento
Doía
dentro do seu coração
Sentei-me
ao seu lado, procurei me acalmar.
Beijei
a sua testa e ele então a me olhou
E
fazendo um grande esforço para falar
Sua
tragédia toda me contou.
Foi
agora, mamãe, lá na escola
Sem
querer um pé eu descalcei
Do
meu sapato eles fizeram bola
Eu
fiz esforço, mas não o alcancei.
E
gritava em algazarra delirante
Na
proporção que cada um chutava
E
eu via cair o seu barbante
E
também via que ele se rasgava.
E
lembrei-me somente da senhora
Que
trabalha dia e noite sem parar,
Sem
ter dinheiro
pra comprar agora
Outro
par de sapatos pra me dar.
Marchei
direto pra diretoria,
Prestei
a queixa ao meu inspetor
Que
mandou buscar com autonomia
O
aluno culpado, o autor.
À
proporção que ele se aproximava,
Era
o amigo de quem eu mais gostava
E
eu fui seu carrasco delator.
Aquela
cena mamãe me deu um trauma
Ele
não merecia eu ter agido assim.
É
um amigo que tenho dentro d´alma
É
a amizade que vi chegar ao fim
O
que é certo é que eu perdi de fato,
Um
grande amigo por causa de um sapato,
E
não tens nesta hora outros para mim.
As
lágrimas se inverteram e quem chorou fui eu.
Filho,
não se perde um amigo de verdade
Acredite
no conselho meu,
Vai
a ele e conta com vontade,
Que
não fizeste aquilo por maldade,
Foi
por pobreza que tudo aconteceu.
E
verás que ele reconhecerá
E
o perdão facilmente te dará.
E
ele voltou no outro dia radiante
Mamãe
eu fiz como a senhora me ensinou
E
meu amigo compreendeu no mesmo instante
E
o resto da turma ele chamou
E
em uma emoção que foi constante,
Aos
colegas todos, ele explicou:
Olhem
amigos o Dimas tem razão,
Foi
somente em sua mãe que ele pensou
Naquela
hora em que denunciou.
Ao
meu filho Dimas Iraê de Moura – Inspirado num fato real
Gilda
Moura – Acadêmica, trovadora e poeta.
Página
61 – Livro Gilda – 1998
Nenhum comentário:
Postar um comentário